A tradução não é uma profissão regulamentada; ou seja, não é necessário ter um diploma para exercê-la. Isso significa que qualquer pessoa pode trabalhar nesse mercado.
No entanto, eu gosto de fazer uma distinção entre aqueles que trabalham com tradução e aqueles que são, na verdade, tradutores. A diferença pode parecer sutil em um primeiro momento, mas merece uma análise.
Existem vários mitos que cercam a nossa profissão, e o principal deles é a crença de que basta ser bilíngue para se tornar um tradutor. E mais, que basta “mandar bem” no idioma de partida ou ter morado fora por um tempo.
Com certeza, conhecer bem o idioma de partida é essencial. Mas não é tudo. É só o primeiro requisito.
Pessoalmente, acredito que, para ser tradutor, é necessário conhecer muito bem — diria que até melhor — o idioma de chegada para produzir um texto fluido, rico e agradável de se ler, seja ele técnico, científico ou literário.
Um texto não é construído apenas com palavras. Ele carrega consigo uma série de elementos culturais, sociais e sutilezas linguísticas muito peculiares de cada idioma, e o tradutor precisa ter amplos conhecimentos gerais e culturais.
No processo tradutório, há de se considerar os aspectos interculturais, estilísticos e de gênero para se tomar as decisões adequadas para passar para o leitor da língua de chegada não apenas o significado do texto, mas também as reações que o autor da língua de partida esperava provocar.
Tais decisões envolvem não apenas escolhas linguísticas (lexicais, gramaticais, expressões idiomáticas etc.), mas também a avaliação da necessidade de uma adaptação de um trecho (por exemplo, acréscimo de informações para torná-lo mais claro, alterar uma piada para provocar o efeito desejado pelo autor etc.) ou de se incluir uma nota de tradução.
Além disso, para ser tradutor, é necessário ter disposição para pesquisar, pesquisar muito e um pouco mais. O tradutor precisa desconfiar de cognatos e buscar mais informações sobre assuntos ou palavras que já conhece.
Também é necessário revisar o texto traduzido. Por melhor que seja o tradutor e por mais simples que o texto seja, é primordial cotejá-lo com o original, relê-lo e revisá-lo. Não importa que o material ainda vá passar por revisões adicionais depois que for entregue ao cliente.
Não basta passar o corretor ortográfico e considerar o texto “revisado”. Essa ferramenta é muito útil para apontar erros de digitação, mas não consegue detectar, por exemplo, questões de homofonia (palavras com a mesma pronúncia e grafias e significados diferentes), tais como assento x acento; xeque x cheque; sessão x seção x cessão; cumprimento x comprimento etc.
Por menor que seja o prazo, essas etapas não devem ser deixadas de lado. Isso representa um grande diferencial no resultado final do trabalho e pode ser a diferença entre conquistar o cliente ou perdê-lo.
É a diferença entre trabalhar com tradução e ser um tradutor.
Para terminar, gostaria de deixar aqui alguns conselhos para quem deseja entrar nesse mercado lindo e apaixonante:
Estudem, busquem cursos de graduação ou de especialização, leiam sobre o tema, leiam criticamente obras traduzidas e, acima de tudo, tenham como objetivo SER tradutores e não apenas trabalhar com tradução.