Traduzir A mulher do oficial nazista foi um presente que recebi da HaperCollins Brasil.
Este livro traz o relato de Edith Hahn, uma judia culta que passa a viver clandestinamente como alemã humilde para sobreviver à guerra, passando por uma série de dificuldades, além do constante medo de ser descoberta.
Mas antes de chegar a esse ponto, Edith leva o leitor a uma viagem no tempo, fazendo-nos mergulhar no seu dia a dia antes da guerra, primeiro contando-nos um pouco sobre sua infância e adolescência e, depois, sobre sua vida como estudante de Direito:
“Enquanto Hitler ascendia ao poder na Alemanha, eu fazia caminhadas nas montanhas com as garotas do grupo jovem socialista.”
Nas entrelinhas do seu relato, é possível perceber que, na Áustria pré-guerra, os judeus eram apenas tolerados e tinham de conviver diariamente com o preconceito. Ainda assim, perseveravam, trabalhavam, estudavam, prosperavam, despertando um sentimento de raiva nos outros cidadãos do país. Quando Hitler anexa a Áustria ao Reich, a vida dos judeus do país começa a mudar e eles vão perdendo, aos poucos, os bens materiais e os direitos como cidadãos, são enviados a guetos, depois a campos de trabalhos forçados e, por fim, aos campos de concentração, onde milhões perderam a vida.
Em algumas partes do livro, Edith fala diretamente com o leitor, para reforçar uma ideia. Uma das suas falas mais emblemáticas, na minha opinião, foi:
“Então, veja bem, quando eles dizem que não sabiam como os judeus estavam sendo despojados, você não deve acreditar neles. Todos eles sabiam.”
Ela insiste nesse ponto diversas vezes, falando sobre como vizinhos, amigos e conhecidos obtiveram vantagens — pequenas e grandes — ao segregar os judeus e foram coniventes com o Partido Nazista. Mas ela também nos conta sobre pessoas de coragem que se arriscaram para ajudá-la a sobreviver, agindo como verdadeiros heróis.
Depois, Edith nos revela detalhes da sua vida clandestina como uma dona de casa alemã de classe baixa, casada com um membro do Partido Nazista, que, mais tarde, se torna um oficial. Fica claro em seu relato o medo constante que sentia de ser descoberta, a preocupação com a mãe que tinha sido enviada para um campo de concentração na Polônia, a necessidade de agradar o marido a todo custo e o medo de perder a própria identidade e personalidade enquanto vivia uma mentira.
Com o fim da guerra, sua cidade é dominada pelos russos, ela reassume a identidade de Edith Hahn e pode exercer a sua profissão, virando juíza. Sob o regime comunista, ela acredita que finalmente conseguirá ter a vida que sonhara para ela. No entanto, começa a perceber sinais de outro governo totalitário e ditatorial e o medo volta a dominá-la. Agora já como mãe e recém-divorciada, precisa uma vez mais fugir para ter sua liberdade garantida.
Esta obra é um mergulho na vida cotidiana de uma época turbulenta, mas é muito mais do que uma aula de história, é uma lição de vida, que mostra claramente aonde o preconceito e a intolerância podem nos levar.
Para encerrar, enquanto eu traduzia este livro, quis me aprofundar mais na história e, nas minhas pesquisas, descobri um documentário sobre a história de Edith Hahn Beer narrado por Susan Sarandon e leitura de trechos do livro por Julia Ormond. Infelizmente, o documentário não é legendado, mas vale muito a pena assistir e ouvir os depoimentos da própria Edith.