Explicando o processo editorial

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As pessoas, em geral, não sabem o que um produtor editorial/editor de livros/analista editorial/assistente editorial (são muitas as nomenclaturas de cargo no mercado editorial) faz no seu dia a dia. Vou procurar explicar isso resumidamente neste post, referindo-me a esse profissional de tantos nomes como “produtor editorial”.

Em bate-papos informais, muitas vezes, perguntam-me “Mas o que você faz?”, e eu respondo “livros”. E a pessoa fica me olhando com uma expressão de ponto de interrogação, sem entender. Algumas chegam a exclamar “Ah, então, você escreve livros!”

Já conversei com os meus colegas de trabalho e de profissão sobre isso e eles dizem que com eles é a mesma coisa. Ao que parece, a maioria das pessoas acha que o livro está pronto quando o autor acaba de escrever ou o tradutor acaba de traduzir. Ledo engano.livros

São inúmeras as etapas pelas quais o texto passa até chegar às mãos do leitor, e o produtor editorial é o responsável por coordenar todo o processo. Para explicar cada uma das fases, gosto de fazer uma analogia com o mercado de joias. Acho que porque o nosso avô era um excelente lapidador.

Para este post, vou considerar a edição de um livro estrangeiro. Nesse caso, o trabalho começa quando o produtor editorial envia o livro para a tradução.

O grande desafio do tradutor é passar para o idioma de chegada (no nosso caso, o português) as ideias do autor da obra original da forma mais fiel possível, buscando as melhores palavras e estruturas linguísticas para o livro, respeitando o estilo do texto, a terminologia, as figuras de linguagem e as escolhas do autor, mas nunca se esquecendo de que o texto deve ficar bem escrito na nossa língua, soando natural para o nosso leitor.

Costumo dizer que o tradutor é como um minerador em busca de diamantes e pedras preciosas. É um trabalho árduo e duro, e a qualidade final do texto depende completamente dessa etapa. Ou seja, se o tradutor enviar um diamante bruto, o texto final tem grandes chances de ser uma joia de primeira linha. Se, ao invés disso, ele entregar pedras de carvão mineral, é bem provável que o produto final seja um texto pobre, sem valor, que não condiz com o original, por melhor que seja o trabalho dos demais profissionais. Sem uma boa matéria-prima, o produto final não consegue chegar à qualidade máxima.

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O processo editorial é como escolher e lapidar um belo diamante.

Depois que o texto é traduzido, o produtor editorial o envia para o copidesque, ou seja, o revisor de redação e preparador de originais. Esse profissional é o lapidador. Ele é o responsável por moldar cada uma das facetas da pedra, buscando aprimorá-la e refiná-la. Ele revisa todo o texto resolvendo questões de padronização, coesão textual, repetições, redundâncias etc., além de corrigir possíveis erros gramaticais e identificar possíveis saltos de tradução.

Em seguida, o texto volta para as mãos do, digamos, “onipresente” produtor editorial, que é o responsável por todo o processo editorial. Nesse momento, ele avalia todo o trabalho que foi realizado, aprimora o texto, planeja o formato da obra e define os profissionais que darão continuidade ao trabalho. É como se ele estivesse acertando as arestas e dando um novo polimento à pedra para que ela possa seguir para o designer.

Quando o texto está pronto para a próxima etapa, a de paginação, o produtor editorial começa a pensar na forma da obra e, para isso, entra em contato com um designer, que apresenta layouts para as páginas internas do livro (o miolo) e para a capa, sugere fontes de boa leitura e tamanho adequado. Esse profissional trabalha em conjunto com o produtor editorial para que cheguem a um modelo, considerando o estilo da obra, o público-alvo e o formato do livro. É como se ele estivesse desenhando a joia para que o ourives crie a estrutura que receberá a pedra.

Definido o modelo, a obra segue para a etapa de paginação. Nesse momento, o texto é distribuído nas páginas e chegará ao seu formato final. O paginador é o ourives que monta a estrutura de metal precioso para a colocação das pedras lapidadas e polidas.

Depois de lapidado, o texto está pronto para se tornar uma bela joia ao alcance de todos.

Depois de lapidado, o texto está pronto para se tornar uma bela joia ao alcance de todos.

Depois, o texto passa por novas revisões, chamadas tipográficas, para verificar se ainda ficou algum erro no texto. Nessa etapa, o produtor editorial também confere todos os detalhes finais da obra. É como se fosse um controle de qualidade do modelo montado pelo ourives e uma conferência do designer para ver se todas as especificações foram seguidas.

Todas as correções apontadas são feitas e conferidas. A joia recebe novos polimentos e outras arestas são acertadas.

Quando, por fim, o arquivo é considerado final, ele segue para a gráfica, onde as páginas são impressas, dobradas, costuradas e coladas e a capa é colocada. São as joias sendo montadas para seguirem para as joalherias.

Da gráfica, os exemplares seguem para o depósito da editora e, depois, são distribuídos paras as livrarias, prontinhos para chegarem às mãos dos leitores.

Essa é uma explicação bem resumida das etapas editoriais. Espero que tenha ajudado a entender o longo caminho que um texto percorre até se transformar em livro e chegar ao leitor. Em posts futuros, escreverei com mais detalhes sobre cada uma das etapas, descrevendo os desafios de cada uma delas.

Natalie

Publicado por Natalie

Amante de livros, tradutora e editora com mais de 15 anos de experiência no mercado editorial e fundadora da Calliope Soluções Editoriais.

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